quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O QUE É O BATISMO COM FOGO?


                                                                            













Texto base: 

“E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo” (Mateus 3: 11).

Ao lermos o versículo supracitado surge a seguinte pergunta: João está falando de um só batismo, ou o batismo com Espírito Santo e com fogo são batismos diferentes?
Eu sempre acreditei que o batismo com fogo fosse o mesmo batismo com Espírito Santo, entretanto fazendo uma analise mais apurada do contexto imediato de (Mt: 3: 1- 12) cheguei a conclusão de que João se referia a dois tipos de batismo, ou seja, ele falava do batismo com Espírito Santo e do batismo com fogo. 

Mas antes de discorrermos sobre nossa visão concernente o tema abordado quero fazer as seguintes considerações:
1) O fogo é um dos símbolos do Espírito Santo, mas isso não significa que o batismo com Espírito Santo seja necessariamente o mesmo batismo com fogo.
É bem verdade que o fogo é um dos símbolos do Espírito Santo, todavia a bíblia usa esse termo mais pra se referir aos juízos de Deus do que ao Espírito Santo (conferir: Gn: 19: 24; Ex: 9: 24; Sl: 21: 8; Is: 66: 15; Jl: 2: 3; Mt: 7: 19; 13: 50; Hb: 12: 29; 2 Pe: 3: 7; Ap: 20: 9, 14). Portanto o fato de o fogo ser um dos símbolos do Espírito não neutraliza a possibilidade do batismo com fogo não ser o mesmo batismo com Espírito Santo.
2) Não existe apoio bíblico pra dizermos que o batismo com Espírito Santo é o mesmo batismo com fogo.
Em Atos dos Apóstolos lemos: “E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (At: 2: 3), alguns acreditam que aqui seja uma suposta referencia ao batismo com fogo, entretanto o texto não diz que os irmãos foram batizados com fogo, mas que foram vista por eles línguas repartidas como que de fogo, portanto não podemos crer que ali seja um apoio bíblico a esse pensamento. É importante esclarecer também que em momento algum na bíblia os apóstolos se referiram ao batismo com fogo como sendo o mesmo batismo com Espírito Santo, pelo contrario, eles apenas diziam que os irmãos recebiam o Espírito Santo, falavam em línguas e profetizavam somente isso. (conferir At: 2: 1- 4; 8: 14- 17; 19: 4- 6).

Tendo em vistas as considerações acima vejamos a interpretação correta sobre o assunto em foco:
O profeta João Batista pregava para duas classes de pessoas coforme está descrito em (Mt: 3: 1- 12), a saber: pecadores arrependidos, e fariseus e saduceus hipócritas. Observa-se também que o sermão de João Batista se inicia quando os fariseus e saduceus comparecem perante ele (conferir Mt: 3: 7); portanto o que se deduz é que o sermão de João Batista não se direciona exclusivamente aos pecadores arrependidos, mas também aos fariseus e saduceus hipócritas. Vejamos: “E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? (Mateus 3:7); nos versículos posteriores João continua dizendo: “E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo” (Mateus 3: 10). Quando João diz: “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo” (Mateus 3: 11), ele está apenas afirmando que o ministério de Jesus é maior que o seu ministério, ou seja, enquanto João batiza pra o arrependimento, Jesus vai alem, pois ele batiza com Espírito Santo, trazendo regeneração espiritual, mas também batiza com fogo trazendo juízo pra os pecadores hipócritas. Observe que no versículo 10 João faz questão de comparar as pessoas que ali estão a uma arvore, sendo que a árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada no fogo. Já no versículo 12 do mesmo capitulo ele diz: “Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagara”. 

Portanto a conclusão é a seguinte: o batismo com Espírito Santo é para o trigo, para aqueles que arrependidos dos seus erros confessam os seus pecados e passam a produzir frutos bons, esses assim como o trigo serão limpos de todo pecado e guardados no celeiro do Senhor, e em contrapartida o batismo com fogo é pra palha e pra árvore que não produzir frutos, ou seja, para aqueles que continuam no seu erro, na sua hipocrisia fatal, esses serão queimados com o fogo que nunca se apaga (Mt: 3: 12).


Em Cristo! 

Washington Araujo

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Arrependimento bíblico - J. I. Packer


  
Observar um texto bíblico clássico que traça o perfil do arrependimento que vem de dentro nos será útil aqui. No Salmo 51, de acordo com a tradição, Davi publicamente poetiza a penitência que expressou a Deus depois de ter-se convencido do seu pecado na questão de Bate-Seba e Urias. Ele quebrou o décimo mandamento ao desejar a mulher do seu próximo; o oitavo, ao roubá-la; o sétimo, ao adulterar com ela; o nono, indiretamente, ao tentar enganar Urias para que cuidasse da criança que estava por nascer como se fosse sua; e o sexto, diretamente, matando Urias à longa distância. Então, como observamos anteriormente, Davi passou um ano indiferente ao que havia feito até que o profeta Nata, falando em nome de Deus, mostrou-lhe o descontentamento divino pela situação (2Sm 11-12). Mas, no Salmo 51, encontramos um Davi consciente, e que agora expressa total arrependimento em seis etapas distintas:

1. Os versículos 1 e 2 são uma súplica por misericórdia e perdão. Revelam uma verdadeira compreensão da aliança divina. Davi apela ao "inesgotável amor" ("benignidade" e "bondade" em outras traduções) de Deus, ou seja, à fidelidade da aliança divina com quem ele mesmo se comprometeu. A aliança pela qual Deus e os seres humanos se comprometem em pertencer um ao outro para sempre é a base de toda a religião baseada na Bíblia. Quando os servos de Deus tropeçam e caem, a fidelidade de Deus à aliança para com a qual seus servos foram infiéis é sua única esperança. O relacionamento nesta aliança é, enfaticamente, um dom da graça de Deus. E ele quem inicia e sustenta essa aliança, suportando todas as loucuras e vícios de seus parceiros que a constituem. Pois os santos de Deus foram, são e continuarão sendo criaturas loucas e pecadoras, que só podem che-gar à sua presença por meio do constante perdão de seus constantes pecados. No entanto, o arrependimento é o único caminho que leva ao perdão.

2. Os versículos 3 a 6 são um reconhecimento da culpa e a punição que merecemos por nossos pecados. Mostram a compreensão do pecado como a perversidade inata do nosso coração que encontra sua expressão nos pecados, atos específicos de maldade e erro aos olhos de Deus. As profundas verdades encontradas aqui são: primeiro, não somos pecadores porque pecamos, mas, pelo contrário, pecamos porque somos pecadores (v. 5,6); segundo, todos os nossos pecados, nossas crueldades e nossas idolatrias são pecados contra Deus (v. 4).

3. Os versículos 7 a 9 são um pranto vindo do coração para a purificação do pecado e anulação da culpa. Mostram a compreensão da salvação como uma obra de Deus que restaura a alegria da comunhão com ele mesmo por meio da convicção de perdão dos pecados. Os "ossos" de Davi (sua própria consciência, quem ele sabe que é) são "esmagados" (incapazes de funcionar propriamente) como conseqüência de sua consciência acusadora. Ele pede que seus "ossos" literalmente "dancem" ("exultem", como encontramos em diversas traduções)por causa desta garantia (v. 8) - uma metáfora vivida para a revitalização da vida interior de uma pessoa que a compreensão de seu pecado produz.

4. Os versículos 10 a 12 são uma petição para a vivificação e renovação em Deus. Mostram uma compreensão da vida espiritual como, em essência, a resposta firme e positiva do espírito do Homem para Deus - uma resposta que é produzida e mantida pelo ministério regenerativo do próprio Espírito de Deus que habita em nós. E a maneira que Deus usa para remover nosso demérito, nossa corrupção e nossos desvios. Ele não nos salva em nossos pecados, mas dos nossos pecados. Aquele a quem ele justifica, também santifica. Onde não existe vestígio algum de um coração puro (um coração que abomina o pecado e que reflete a pureza de Deus) ou de um espírito "voluntário" (uma disposição para honrar e obedecer a Deus, e resistir as tentações do pecado), podemos duvidar se a pessoa está realmente em um estado de graça de qualquer modo. Certamente, buscar uma renovação em justiça e afastar-se do pecado é, daqui em diante, a essência do arrependimento. Sem isto, a pessoa não manifestará contrição, e não é, de modo nenhum, penitente.

5. Os versículos 13 a 17 são uma promessa de proclamar a misericórdia perdoadora de Deus por meio do testemunho e da adoração. Mostram uma compreensão de ministério para Deus e para o nosso próximo: para o santo Deus, por meio do louvor que expressa gratidão; e para os pecadores, pela declaração da graça que salva. Observemos que os santos são salvos para servir - celebrar e compartilhar o que Deus lhes tem dado. Uma dedicação renovada para fazê-lo, além de todas as outras boas obras, é uma prova da realidade do arrependimento.

6. Os versículos 18 e 19 são uma oração que pede a bênção da igreja, a Jerusalém de Deus, o povo na terra que leva o seu nome. Os versículos mostram uma compreensão do que mais agrada a Deus - pecadores salvos, penitentes que agora estão perdoados e prosperam espiritualmente, que são movidos pela gratidão e alegria a oferecer "sacrifícios de justiça" (v. 19). (A idéia aqui é de oferecer presentes a Deus com amor, embora talvez os sacrifícios de novilhos, sobre os quais Davi fala, não sugiram isto para o leitor moderno). A intercessão de Davi por todo o povo de Deus não indica, na verdade, uma mudança do tema da penitência que ele estava expressando anteriormente. A intercessão brota naturalmente das experiências do amor perdoador de Deus que o arrependimento desencadeia. Uma pessoa que sabe que é amada mostrará amor pelos outros, e esse amor irá levá-la a orar por eles.

Davi honrou a pureza de Deus pelo modo como se arrependeu de seus vergonhosos atos. Ao se humilhar, ele reconheceu o desafio que havia lançado, procurou libertação do poder e da culpa de seus pecados e ofereceu-se novamente para realizar a obra de Deus e progredir em seu louvor. Este foi um ato de verdadeiro arrependimento, e, como tal, serve como modelo para nós.
Os cristãos, em seus sonhos e desejos, ainda que não mostrem isto em suas atitudes exteriores, também têm suas falhas no que se refere à cobiça, lascívia, avareza, malícia e engano. Os cristãos, como outros, são tentados a ser indulgentes consigo mesmos, abusar e explorar o seu próximo, usar sua autoridade como um direito no campo dos relacionamentos e, de vez em quando, desejar a morte de outros. Se Deus, em sua providência, nos impede ou não de realizar esses "sonhos" não é a questão. O ponto é que existem os desejos desordenados e quando o nosso coração se envolve com eles, ele está no caminho errado. Este é o motivo pelo qual precisamos nos arrepender.
Algumas formas do assim chamado ensino da santidade nos encorajam a ser insensíveis ou despreocupados com os pensamentos e motivos impuros que estão ocultos dentro de nós, mas um indício da santidade verdadeira é uma consciência crescente desses pensamentos e motivos, um aborrecimento crescente em relação a eles e um profundo arrependimento por eles quando nos vemos fomentando-os no nosso coração. Vimos este santo aborrecimento na vida de John Bradford, e Deus quer vê-lo em nós todos, pois sua pureza não pode ser honrada de outra forma.



O que é a justiça de Deus? – Thomas Watson (1620-1686) 




"Justiça significa dar a cada um o que merece." A justiça de Deus é a retidão de sua natureza, aquilo pelo qual faz o que é reto e de igual medida. "E não pagará ele ao homem segundo as suas obras?" (Pv 24.12). Deus é um juiz imparcial. Ele julga a causa. Os homens geralmente julgam a pessoa, mas não a causa. Isso não é justiça, mas malícia. "Descerei e verei se, de fato, o que têm praticado corresponde a esse clamor que é vindo até mim" (Gn 18.21). Quando o Senhor está diante de um ato punitivo, pesa as coisas na balança, não pune de qualquer maneira; não age desordenadamente, mas de maneira lógica contra os ofensores. Em relação à justiça de Deus, devo apresentar as seis seguintes posições:

a.      A justiça de Deus é santa

Deus só pode ser justo. Sua santidade é a causa de sua justiça. A santidade não permitirá que faça outra coisa senão o que é justo.

b.      A justiça de Deus é o padrão de justiça
A vontade de Deus é a suprema regra de justiça; é o padrão de eqüidade. Sua vontade é sábia e boa. Deus deseja somente o que é justo e, portanto, é justo porque deseja ser.

c.       A justiça é natural ao ser de Deus
Deus faz justiça voluntariamente. A justiça flui de sua natureza. Os homens podem agir injustamente, pois são forçados ou subornados.

A vontade de Deus nunca será subornada, por causa de sua justiça. Não pode ser forçado, por causa de seu poder. Ele pratica a justiça por amor à justiça: "Amas a justiça" (SI 45.7).

d.      A justiça de Deus é perfeita
A justiça é a perfeição da natureza divina. Aristóteles disse: "A justiça engloba em si todas as virtudes". Dizer que Deus é justo é dizer que é tudo o que há de excelente: as perfeições se encontram nele como linhas convergem para um centro. Ele não é somente justo, mas a própria justiça.

e.       A justiça de Deus é exata

Deus nunca cometeu nem nunca cometerá o mínimo erro em relação às suas criaturas. A justiça de Deus já foi distorcida, mas nunca distorceu. Deus não segue de acordo com o rigor da lei, ele alivia sua severidade. Pode infligir penas mais pesadas do que impõe: "Xos tens castigado menos do que merecem as nossas iniquidades" (Ed 9.13). As misericórdias para conosco são mais do que merecemos, e nossas punições são menos do que merecemos.

A justiça de Deus é definitiva

A justiça de Deus é tal que não é apropriado para qualquer homem ou anjo censurá-lo ou exigir uma razão por suas ações. Deus não tem só a autoridade do seu lado, mas a eqüidade. "Farei do juízo a régua e da justiça, o prumo" (Is 28.17). E algo inferior a ele, dar razão para nós de seus procedimentos. Qual destes dois é mais apropriado prevalecer, a justiça de Deus ou a razão humana? "Quem és tu. ó homem, para discutires com Deus?!" (Rm 9.20). A linha de prumo de nossa razão é muito curta para compreender a profundidade da justiça de Deus. "Quão insondáveis são os seus juízos" (Rm 11.33). Devemos adorar a justiça de Deus mesmo onde não vemos razão para tal.

Onde identificamos a justiça de Deus?
A justiça de Deus corre em dois canais. Ela é vista em duas coisas: na distribuição de prêmios e de punições.

a. A justiça de Deus é vista na premiação dos justos

Deus premia o virtuoso. "Na verdade, há recompensa para o justo" (SI 58.11). Os santos não devem servi-lo sem recompensa, ele recompensará os clamores e as lágrimas: embora os justos possam ser derrotados por causa dele, não serão derrotados por ele. "Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome" (Hb 6.10). Ele nos dá um prêmio, não porque mereçamos, mas porque nos prometeu.

b. A justiça de Deus é vista na punição dos ímpios
Ele é justo em punir os ofensores. Por que Deus é justo em punir os pecadores?

i.       Porque Deus pune os pecadores baseado em uma lei. "Onde não
há lei, também não há transgressão" (Rm 4.15). Mas Deus deu uma lei aos
homens e eles a quebraram, portanto os pune justamente.

ii.      Porque Deus pune os pecadores fundamentado em provas
concretas. Ele é justo em punir os ímpios, pois nunca os pune senão depois
de obter prova e evidência. Que maior evidência há do que a própria
consciência de uma pessoa como testemunha contra si. Não há nada que
Deus lance sobre um pecador que a consciência não sele como verdade.

APLICAÇÕES

Primeira aplicação: veja aqui mais uma flor da coroa de Deus: ele é justo e reto. Ele é exemplo e padrão de justiça.

3. Deus é justo ao permitir que o ímpio prospere?

Como fica a prosperidade do ímpio neste mundo em relação à justiça de Deus? "Por que prospera o caminho dos perversos, e vivem em paz todos os que procedem perfidamente?" (Jr 12.1).
Tal dúvida tem sido uma grande pedra de tropeço e tem levado muitos a questionar a justiça de Deus. Os que são mais pecaminosos são mais poderosos. Diógenes,52 quando viu o ladrão Harpalus prosperando, disse: "É certo que Deus jogou fora o governo do mundo e não se importa como as coisas acontecem aqui embaixo".
Deus se relaciona com a prosperidade do ímpio das seguintes maneiras:

a.      Usando-a como instrumento de sua vontade

Os ímpios, às vezes, podem ser instrumentos da obra de Deus. Embora não tenham em vista a glória de Deus, podem promovê-la. Ciro (Ed 1.7) foi um instrumento na construção do templo de Deus em Jerusalém. Deus permite que esses prosperem sob as asas de quem seu povo é protegido. Deus não fica em débito com homem algum. "Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis, debalde, o fogo do meu altar" (Ml 1.10).

b.      Usando-a para torná-los ainda mais indesculpáveis
Deus permite que os homens pequem e prosperem de maneira que fiquem ainda mais indesculpáveis. "Dei-lhe tempo para se arrependesse... da sua prostituição" (Ap 2.21). Deus adia o julgamento, estica suas misericórdias para com os pecadores e, se não se arrependem, sua paciência será testemunha contra eles e sua justiça será mais clara na condenação deles. "Serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar" (SI 51.4).

c.       Usando-a para destacar ainda mais sua justiça

Deus nem sempre deixa o ímpio prosperar em seu pecado. Alguns ímpios, Deus pune abertamente, para que sua justiça seja observada. "Faz-se conhecido o SENHOR, pelo juízo que executa" (SI 9.16), isto é, sua justiça faz homens caírem no ato do pecado. Assim fez com Zimri e Cozbi no ato da impureza.

d.      Usando-a para encher plenamente o cálice de sua ira

Quando Deus permite que os homens prosperem um pouco em seus pecados, o cálice de sua ira está sempre enchendo, sua espada está sempre afiada: e embora Deus possa evitar os homens por um pouco, a demora em agir não é perdão. Quanto mais Deus demorar em tomar uma atitude, mais pesado será no final. Enquanto existir a eternidade, Deus tem tempo o suficiente para lidar com seus inimigos.
A justiça pode ser como um leão adormecido, mas o leão acordará e rugirá sobre o pecador. Nero, Júlio e Caim já não se depararam com a justiça de Deus?

É tempo de todos os homens se aperceberem que é inevitável, e a justiça de Deus, por fim, os encontrará.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Graça Comum
por
Wayne Grudem



I. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA

A. Introdução e definição
Quando Adão e Eva pecaram, tornaram-se réus da punição eterna e da separação de Deus (Gênesis 2:17). Do mesmo modo, hoje, quando os seres humanos pecam, eles se tornam sujeito à ira de Deus e à punição eterna: “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). Isso significa que, uma vez que as pessoas pecam, a justiça de Deus requer somente uma coisa — que elas sejam eternamente separadas de Deus, alienadas da possibilidade de experimentar qualquer bem da parte dEle, e que elas existam para sempre no inferno, recebendo eternamente apenas a Sua ira. De fato, isso foi o que aconteceu aos anjos que pecaram e poderia ter acontecido exatamente conosco também: “Pois Deus não poupou aos anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo” (2 Pedro 2:4).
Mas, de fato, Adão e Eva não morreram imediatamente (embora a sentença de morte começasse a ser aplicada na vida deles no dia em que pecaram). A execução plena da sentença de morte foi retardada por muitos anos. Além disso, milhões de seus descendentes até o dia de hoje não morrem nem vão para o inferno tão logo pecam, mas continuam a viver por muitos anos, desfrutando bênçãos incontáveis nesta vida. Como pode ser isso? Como Deus pode continuar a conferir bênçãos a pecadores que merecem somente a morte — não somente aos que finalmente serão salvos, mas também a milhões que nunca serão salvos, cujos pecados nunca serão perdoados?
A respostas a essas perguntas é que Deus concede-lhes graça comum. Podemos definir graça comum da seguinte maneira: Graça comum é a graça de Deus pela qual Ele dá às pessoas bênçãos inumeráveis que não são parte da salvação. A palavra comum aqui significa algo que é dado a todos os homens e não é restrito aos crentes ou aos eleitos somente.
Diferentemente da graça comum, a graça de Deus que leva pessoas à salvação é muitas vezes chamada “graça salvadora”. Naturalmente, quando falamos a respeito da “graça comum” e da “graça salvadora”, não estamos sugerindo que há duas diferentes espécies de graça no próprio Deus, mas apenas estamos dizendo que a graça de Deus se manifesta no mundo de duas maneiras diferentes. A graça comum é diferente da graça salvadora quanto aos resultados (ela não traz salvação), seus destinatários (é dada aos crentes e descrentes igualmente) e sua fonte (ela não flui diretamente da obra expiatória de Cristo, visto que a morte dEle não obtém nenhuma medida de perdão para os descrentes e, portanto, nem os crentes nem os descrentes fazem jus às suas bênçãos). Contudo, sobre o último ponto, deve ser dito que a graça comum flui indiretamente da obra redentora de Cristo, porque o fato de Deus não julgar o mundo assim que o pecado entrou nele talvez seja apenas porque Ele planejou finalmente salvar alguns pecadores por meio da morte de Seu Filho.

B. Exemplos de graça comum

Se olhamos para o mundo ao nosso redor e o contrastamos com o fogo do inferno que ele merece, podemos ver imediatamente a abundante evidência da graça comum de Deus em milhares de exemplos na vida diária. Podemos distinguir diversas categorias específicas nas quais essa graça comum pode ser vista.
1. A esfera física. Os descrentes continuam a viver neste mundo somente por causa da graça comum de Deus — cada vez que as pessoas respiram é pela graça, pois o salário do pecado é a morte, não a vida. Além disso, a terra não produz somente espinhos e ervas daninhas (Gênesis 3:18), nem permanece um deserto ressequido, mas a graça comum de Deus provê comida e material para roupa e abrigo, muitas vezes em grande abundância e diversidade. Jesus disse: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque Ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:44,45). Aqui Jesus apela para a abundante graça comum de Deus como encorajamento aos seus discípulos, para que eles também concedam amor e orem para que os descrentes sejam abençoados (cf. Lucas 6:35,36). Semelhantemente, Paulo disse ao povo de Listra: “No passado [Deus] permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos. Contudo. Deus não ficou sem testemunho: mostrou sua bondade, dando-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura e um coração cheio de alegria” (Atos 14:16,17).
O Antigo Testamento também fala da graça comum de Deus que vem aos descrentes tanto quanto aos crentes. Um exemplo específico é o de Potifar, o capitão da guarda do Egito que comprou José como escravo: “o Senhor abençoou a casa do egípcio por causa de José. A bênção do Senhor estava sobre tudo o que Potifar possuía, tanto em casa como no campo” (Gênesis 39:5). Davi fala de modo muito mais geral a respeito das criaturas que o Senhor fez:
“O Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas. [...] Os olhos de todos estão voltados para ti, e tu lhes dás o alimento no devido tempo. Abres a tua mão e satisfazes os desejos de todos os seres vivos” (Salmos 145:9,15,16).
Estes versículos são outro lembrete de que a bondade que é encontrada em toda a criação não acontece automaticamente — ela se deve à bondade de Deus e Sua compaixão.
2. A esfera intelectual. Satanás é “mentiroso e pai da mentira” e “não há verdade nele” (João 8:44), porque lhe foi dado ter domínio sobre o mal e sobre a irracionalidade e comprometimento com a falsidade que acompanha o mal radical. Mas os seres humanos no mundo de hoje, mesmo os descrentes, não estão totalmente entregues à mentira, irracionalidade e ignorância. Todas as pessoas são capazes de ter um pouco de compreensão da verdade; de fato, algumas possuem grande inteligência e entendimento. Isso também deve ser visto como resultado da graça comum de Deus. João fala de Jesus como “a verdadeira luz, que ilumina todos os homens” (João 1:9), pois, em seu papel como criador e sustentador do universo (não particularmente em seu papel como redentor), o Filho de Deus concede iluminação e entendimento que vêm a todas as pessoas no mundo.
A graça comum de Deus na esfera intelectual é vista no fato de que todas as pessoas têm certo conhecimento de Deus: “porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças” (Romanos 1:21). Isso significa que há um senso da existência de Deus e muitas vezes a fome de conhecer Deus que Ele permite que permaneça no coração das pessoas, embora isso resulte muitas vezes em muitos religiões diferentes criadas pelos homens. Portanto, mesmo quando falando a pessoas que sustentavam religiões falsas, Paulo pôde encontrar um ponto de contato com respeito ao conhecimento da existência de Deus, exatamente como fez quando falou aos filósofos atenienses: “Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos [...] o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio” (Atos 17:22,23).
A graça comum de Deus na esfera intelectual também resulta na capacidade de captar a verdade e distingui-la do erro e de experimentar crescimento em conhecimento que pode ser usado na investigação do universo e na tarefa de dominar a terra. Isso significa que toda ciência e tecnologia desenvolvida pelos não-cristãos é resultado da graça comum, permitindo-lhes fazer descobertas e invenções incríveis, para desenvolver os recursos do planeta na criação de muitos bens materiais, para produção e distribuição desses recursos e para alcançar habilidades na obra produtiva. Em sentido prático, isso significa que, cada vez que entramos em uma mercearia, andamos em um automóvel ou entramos em uma casa, devemos lembrar que estamos experimentando os resultados da abundante graça comum de Deus derramada tão ricamente sobre toda a raça.
3. A esfera moral. Pela graça comum Deus também refreia as pessoas de serem tão más quanto poderiam. Novamente o reino demoníaco, totalmente dedicado ao mal e à destruição, proporciona um contraste claro com a sociedade humana, na qual o mal é claramente refreado. Se as pessoas persistem dura e repetidamente em seguir o pecado durante o curso de sua vida, Deus finalmente as entregará ao maior de todos os pecados (cf. Salmos 81:12; Romanos 1:24,26,28), mas no caso da maioria dos seres humanos eles não caem nas profundezas às quais seus pecados normalmente os levariam, porque Deus intervém e coloca freio na sua conduta. Um refreamento muito eficaz é a força da consciência. Paulo diz: “De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os” (Romanos 1:32). E em muitos outros casos, essa sensação interior da consciência leva os indivíduos a estabelecer leis e costumes na sociedade que são, em termos da conduta exterior que eles aprovam ou proíbem, totalmente iguais às leis morais da Escritura. As pessoas muitas vezes estabelecem leis ou têm costumes que respeitam a santidade do casamento e da família, protegem a vida humana e proíbem o roubo e a falsidade no falar. Por causa disso, elas muitas vezes seguem caminhos moralmente retos e exteriormente andam conforme os padrões morais encontrados na Escritura. Embora a conduta moral delas não possa ganhar méritos com Deus, visto que a Escritura claramente diz que “diante de Deus ninguém é justificado pela Lei” (Gálatas 3:11) e “Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Romanos 3:12), contudo, em algum sentido menor que ganhar a aprovação ou o mérito eterno de Deus, os descrentes realmente fazem “o bem”. Jesus sugere isso quando diz: “E que mérito terão, se fizerem o bem àqueles que são bons para com vocês? Até os 'pecadores' agem assim” (Lucas 6:33).
4. A esfera da criatividade. Deus distribuiu medidas significativas de capacidade em áreas artísticas e musicais, assim como em outras esferas nas quais a criatividade e a habilidade podem expressar-se, como praticar esportes, cozinhar, escrever, e assim por diante. Além disso, Deus nos dá a capacidade de apreciar a beleza em muitas áreas da vida. E nessa área, assim como na esfera física e intelectual, as bênçãos da graça comum são às vezes derramadas sobre os descrentes até mais abundantemente que sobre os crentes. Todavia, em todos os casos, ela é resultado da graça de Deus.

5. A esfera da sociedade. A graça de Deus também é evidente na existência de várias organizações e estruturas na raça humana. Vemos isso primeiramente na família humana, ressaltado pelo fato de que Adão e Eva permaneceram marido e mulher após a queda e então tiveram filhos, homens e mulheres (Gênesis 5:4). Os filhos de Adão e Eva casaram-se e formaram famílias para si mesmos (Gênesis 4:17,19,26). A família humana permanece ainda hoje, não simplesmente como instituição para os crentes, mas para todas as pessoas.
O governo humano é também resultado da graça comum. Ele foi instituído no princípio por Deus após o dilúvio (ver Gênesis 9:6) e, segundo Romanos 13 claramente afirma, foi estabelecido por Deus: “Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas”. Está claro que o governo é dom de Deus para a raça em geral, pois Paulo diz que a autoridade “é serva de Deus para o seu bem” e que ela é “serva de Deus, agente de justiça para punir quem pratica o mal” (Romanos 13:4). Um dos principais meios que Deus usa para refrear o mal no mundo é o governo humano. As leis humanas, as forças policiais e os sistemas judiciais proporcionam poderosa repressão às más ações, e esses são freios necessários, pois há muito mal no mundo que é irracional e pode ser restringido somente pela força, já que ele não será impedido pela razão ou pela educação. Obviamente a pecaminosidade das pessoas pode também afetar os governos em si mesmos, de forma que o governo humano, igual a todas as outras bênçãos da graça comum que Deus dá, pode ser usado tanto para o propósito do bem como do mal.

6. A esfera religiosa.
Mesmo na esfera da religião humana, a graça comum de Deus traz algumas bênçãos para as pessoas incrédulas. Jesus nos diz: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mateus 5:44), e desde que não há qualquer restrição no contexto para que se ore simplesmente pela salvação deles e como a ordem de orar pelos que nos perseguem é combinada com a ordem de amá-los, parece razoável concluir que Deus pretende responder a nossas orações pelos que nos perseguem em muitas áreas de suas vidas. De fato, Paulo especificamente ordena que oremos “pelos reis e por todos os que exercem autoridade” (1 Timóteo 2:2). Quando procuramos o bem dos descrentes, isso é coerente com a própria prática divina de conceder sol e chuva a “maus e bons” (Mateus 5:45) e também está de acordo com a prática de Jesus durante o Seu ministério terreno, quando Ele curou cada pessoa que lhe era trazida (Lucas 4:40). Não há indicação alguma de que ele tenha exigido que todos cressem nele ou concordassem que ele era o Messias antes de lhes conceder cura física.
Deus responde às orações dos descrentes? Embora Deus não tenha prometido responder às orações dos descrentes como prometeu responder às orações dos que vêm a Ele em nome de Jesus, e embora Ele não tenha obrigação de responder às orações dos descrentes, mesmo assim Deus pode por Sua graça comum ouvir e responder positivamente às orações deles, demonstrando dessa forma Sua misericórdia e bondade de outro modo ainda (cf. Salmos 145:9,15; Mateus 7:22; Lucas 6:35,36). Esse é provavelmente o sentido de 1 Timóteo 4:10, que diz que Deus é o “Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem”. Aqui “Salvador” não significa restritamente “quem perdoa pecados e dá vida eterna”, porque tais coisas não são dadas aos que não crêem. “Salvador” deve ter aqui um sentido mais geral — a saber, “quem resgata da miséria, quem liberta”. Em caso de pobreza e miséria, Deus muitas vezes ouve as orações dos descrentes e os livra graciosamente de seus problemas. Além disso, mesmo os descrentes muitas vezes possuem um senso de gratidão para com Deus pela bondade da criação, pela libertação em meio ao perigo e pelas bênçãos da família, do lar, das amizades e do país.

7. A graça comum não salva pessoas.
A despeito de tudo isso, devemos perceber que a graça comum é diferente da graça salvadora. A graça comum não muda o coração humano nem traz pessoas ao genuíno arrependimento ou à fé — ela não pode salvar e não salva pessoas (embora na esfera intelectual e moral ela possa preparar as pessoas para torná-las mais dispostas a aceitar o evangelho). A graça comum refreia o pecado, mas não muda a disposição fundamental de pecar nem purifica a natureza humana decaída.
Devemos também reconhecer que as ações que os descrentes realizam por causa da graça comum não merecem a aprovação ou o favor de Deus. Essas ações não procedem da fé (“tudo o que não provém da fé é pecado”, Romanos 14:23) nem são motivadas pelo amor a Deus (Mateus 22:37), e sim pelo amor ao ego sob uma ou outra forma. Portanto, embora possamos prontamente dizer que as obras dos descrentes que se conformam externamente às leis de Deus são “boas” em algum sentido, contudo elas não são boas em termos de merecer a aprovação de Deus nem de tornar Deus endividado para com o pecador em sentido algum.
Finalmente, devemos reconhecer que os descrentes muitas vezes recebem mais graça comum que os crentes — eles podem ser mais habilidosos, trabalhar com mais esforço, ser mais inteligentes, mais criativos ou ter mais dos benefícios materiais desta vida para desfrutar. Isso não indica de forma alguma que eles são mais favorecidos por Deus no sentido absoluto ou que eles vão ganhar qualquer coisa relativa à salvação eterna, mas significa somente que Deus distribui as bênçãos da graça comum de vários modos, muitas vezes concedendo bênçãos bastante significativas a descrentes. Em tudo isso, obviamente, eles devem tomar consciência da bondade de Deus (Ateus 14:17) e reconhecer que a vontade revelada de Deus é que essa “bondade de Deus” finalmente os conduza “ao arrependimento” (Romanos 2:4).

C. Razões para a graça comum

Por que Deus concede graça comum a pessoas imerecedoras que nunca virão à salvação? Podemos sugerir ao menos quatro razões.
1. Para redimir os que serão salvos. Pedro diz que o dia do juízo e da execução final de punição está sendo retardado porque há ainda mais pessoas que serão salvas. “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.” (2 Pedro 3:9,10). De fato, essa razão foi verdadeira desde o princípio da história humana, pois, se Deus quisesse salvar qualquer pessoa entre todos que compõem a humanidade pecaminosa, Ele não poderia destruir todos os pecadores imediatamente (nesse caso não sobraria ninguém da raça humana). Ao contrário, Ele resolveu permitir que seres humanos pecaminosos vivessem algum tempo de modo a ter uma oportunidade de arrependimento e também para que pudessem gerar filhos, capacitando gerações subseqüentes a viver, a ouvir o evangelho e se arrepender.
2. Para demonstrar a bondade e a misericórdia de Deus. A bondade e a misericórdia de Deus não são vistas somente na salvação dos crentes, mas também nas bênçãos que Deus dá aos pecadores que não as merecem. Quando Deus “é bondoso para com os ingratos e maus” (Lucas 6:35), essa bondade é revelada no universo, para a Sua glória. Davi diz: “O Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas” (Salmos 145:9). Na história de Jesus conversando com o moço rico, lemos: “Jesus olhou para ele e o amou” (Marcos 10:21), embora o homem fosse um descrente que no mesmo instante afastou-se de Jesus porque possuía muitas riquezas. Berkhof diz que Deus “derrama incontáveis bênçãos sobre todos os homens e também indica claramente que elas são expressões de uma disposição favorável de Deus que, contudo, fica muito aquém da volição positiva exercida para lhes perdoar, suspender a sentença a eles imposta e assegurar-lhes a salvação”.
Não é injusto Deus retratar a execução da punição do pecado e dar temporariamente bênçãos aos seres humanos, porque a punição não é esquecida, mas apenas retardada. Retardando a punição, Deus mostra claramente que não tem prazer em executar o juízo final, mas, ao contrário, Ele se deleita na salvação de homens e mulheres. “Juro pela minha vida, palavra do Soberano, o SENHOR, que não tenho prazer na morte dos ímpios, antes tenho prazer em que eles se desviem dos seus caminhos e vivam” (Ezequiel 33:11). Deus “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4). Em tudo isso o tempo de espera da punição dá uma evidência clara da misericórdia, bondade e amor de Deus.
3. Para demonstrar a justiça de Deus. Quando repetidamente Deus convida os pecadores a virem à fé e repetidamente eles recusam os Seus convites, a justiça de Deus em condená-los é vista muito mais claramente. Paulo adverte que quem persiste na incredulidade está simplesmente acumulando a ira para si mesmo: “Contudo, por causa da teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento” (Romanos 2:5). No dia do juízo todas as bocas serão silenciadas (Romanos 3:19), e ninguém será capaz de contrapor que Deus foi injusto.
4. Para demonstrar a glória de Deus. Finalmente, a glória de Deus é mostrada de muitas formas pelas atividades dos seres humanos em todas as áreas nas quais a graça comum está em operação. No desenvolvimento e no exercício do domínio sobre a terra, homens e mulheres demonstram e refletem a sabedoria do seu Criador, comprovam as qualidades dadas por Deus, as virtudes morais e a autoridade sobre o universo, e coisas semelhantes. Embora todas essas atividades sejam contaminadas por motivos pecaminosos, elas apesar disso refletem a excelência de nosso Criador e, portanto, trazem a glória a Ele, não de forma plena e perfeita, mas ainda assim significativa.

C. Nossa resposta à doutrina da graça comum

Pensando sobre as várias espécies de bondades vistas na vida dos descrentes por causa da graça comum que Deus dá abundantemente, devemos ter em mente três pontos.
1. Graça comum não significa que quem a recebe será salvo. Mesmo uma porção excepcional de graça comum não significa que quem a recebe será salvo. Até as pessoas mais habilidosas, mas inteligentes, mais ricas e poderosas no mundo ainda carecem do evangelho de Jesus Cristo ou serão condenadas eternamente! Os nossos vizinhos mais bondosos e de moral mais elevada ainda carecem do evangelho de Jesus Cristo ou serão condenados eternamente! Exteriormente pode parecer que eles não têm necessidade algumas, mas a Escritura ainda diz que os descrentes são “inimigos de Deus” (Romanos 5:10; cf. Colossenses. 1:21; Tiago 4:4) e são “contra” Cristo (Mateus 12:30). Eles são “inimigos da cruz de Cristo” e “só pensam nas coisas terrenas” (Filipenses 3:18,19), sendo “por natureza merecedores da ira” (Efésios 2:3).
2. Devemos ser cuidados em não rejeitar as coisas boas que os descrentes fazem, considerando-as totalmente más. Pela graça comum os descrentes fazem algumas coisas boas, e devemos ver a mão de Deus nelas, sendo agradecidos por elas, como por exemplo nas amizades, em cada ato de bondade, no que elas trazem de bênçãos para outras pessoas. Tudo isso — embora o descrente não o saiba — procede em última análise de Deus, e Deus merece a glória por tudo.
3. A doutrina da graça comum deveria estimular nosso coração à gratidão muito maior a Deus. Quando descemos uma rua e vemos casas, jardins e famílias vivendo em segurança, ou quando negociamos no mercado e vemos os resultados abundantes do progresso tecnológico, ou quando andamos pelos bosques e vemos a beleza da natureza, ou quando somos protegidos pelas autoridades, ou quando somos educados no vasto conhecimento humano, devemos perceber não somente que Deus, em Sua soberania, é o responsável último por todas essas bênçãos, mas também que Deus as tem concedido aos descrentes, embora eles não tenham absolutamente nenhum mérito com relação a elas! Essas bênçãos no mundo não são apenas evidências do poder e sabedoria de Deus, mas a manifestação contínua da Sua graça abundante. A percepção deste fato deveria fazer nosso coração se encher de gratidão a Deus em cada atividade de nossa vida.


Fonte: Teologia Sistemática, Wayne Grudem, Editora Vida, págs. 297-304.


www.monergismo.com 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Seja cheio do Espírito

Seja Cheio do Espírito - Efésios 5.18

Para muitos, ser cheio do Espírito Santo é um assunto vago e místico. Não há uma ideia clara e definida na mente das pessoas em relação a isso, além do fato de haver muitos ensinamentos errados sobre esse ministério do Espírito. Não admira que os cristãos sejam confusos quanto a esse assunto.
Em primeiro lugar, ser cheio do Espírito deve ser diferente de Seus outros ministérios:
A habitação. Isso significa que a Terceira Pessoa da Trindade mora, literalmente, no corpo de cada crente. Nosso corpo é o templo do Espírito.
O batismo. O batismo é o ministério do Espírito que coloca uma pessoa no corpo de Cristo no momento em que ela crê. A partir de então, ela se torna membro da Igreja Universal.
O selo. Um selo é uma marca de posse e segurança. Deus Espírito marca o crente como sinal de que pertence ao Senhor e está seguro por Ele.
O penhor. Isso significa um sinal ou garantia. Alguns o comparam com a aliança de noivado. Tão certo como a pessoa possui o Espírito, ela também receberá, um dia, a herança por completo.
A unção. No Antigo Testamento, reis e sacerdotes eram ungidos com óleo em um rito inaugural. Da mesma forma, o Espírito nos unge como sacerdotes reais. A unção possui um significado adicional em 1 João 2.27. O ministério de ensino do Espírito nos permite distinguir a verdade do erro.
Todos esses ministérios do Espírito acontecem no momento em que uma pessoa é salva. Eles são automáticos. Não exigem qualquer cooperação por parte do novo crente. Não há condições a serem satisfeitas. São experiências definitivas.
Ser cheio do Espírito é diferente. Na verdade, no Novo Testamento, há duas formas de sermos cheios.
Primeiro, um crente pode ser cheio do Espírito soberanamente para alguma obra especial. Assim, lemos que João Batista foi cheio do Espírito Santo no ventre de sua mãe (Lc 1.15b). Dessa maneira, Deus o preparou para ser o precursor do Messias. É possível que essa palavra tenha sido usada nesse sentido na maioria das ocorrências no livro de Atos. Foi assim que os discípulos foram cheios do Espírito Santo como preparação para a vinda dEle no Pentecoste (At 2.4). Pedro foi cheio do Espírito, pois precisava ser equipado a fim de ser convincente na transmissão da mensagem às autoridades e aos cidadãos comuns (At 4.8). Pedro e João foram cheios a fim de proclamar a Palavra de Deus com intrepidez (At 4.31). Saulo foi cheio do Espírito para pregar de Cristo em Damasco (At 9.17,22). Depois, ele foi novamente cheio para denunciar Elimas, o mágico (At 13.9). Pelo menos algumas dessas ocasiões em que as pessoas foram cheias do Espírito foram temporárias e não houve exigências a serem satisfeitas para que isso ocorresse.
Segundo, há uma forma de sermos cheios do Espírito para a qual há condições. É isso que encontramos em Efésios 5.18. Não é algo pelo qual você ora, mas uma ordem à qual obedece. É claro na língua original do Novo Testamento que o significado desse versículo é: “Sejais continuamente cheios”. Trata-se de um processo contínuo, não de uma realização. Não é uma experiência emocional, mas uma vida de santidade constante.
Paulo escreveu: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”. Por que ele mencionou algo tão ruim quanto a embriaguez juntamente com o nosso dever de sermos cheios do Espírito? Provavelmente porque há algumas semelhanças e diferenças evidentes entre as duas coisas. Primeiro, as semelhanças. Em ambos os casos, a pessoa está sob um controle externo. Na embriaguez, ela está sob o controle da bebida alcoólica chamada, às vezes, de “espíritos”. Ser cheio do Espírito significa que ela está sob o controle do Espírito Santo. Em ambos os casos, é possível saber quem a controla pela forma como anda: o bêbado cambaleia a esmo; a pessoa cheia do Espírito anda separada do pecado e do mundo. Em ambos os casos, é possível saber quem a controla pelo modo como fala: a fala do alcoólatra é enrolada e profana; a fala do crente é edificante e exalta a Cristo.
Também há duas diferenças. Quando se está embriagado, há perda do autocontrole; quando se está cheio do Espírito, não há perda do autocontrole. Quando se está embriagado, há uma menor resistência ao pecado; quando se está cheio do Espírito, a resistência é maior.
Lembrei-me das palavras perspicazes de James Stewart: “Se é pecado embriagar-se com vinho, é um pecado ainda maior não ser cheio do Espírito”.
Conforme mencionado, ser cheio do Espírito é a vida de santidade. Você a encontra sob diferentes aspectos nestas passagens:
  • É o caráter de um cidadão do reino (Mt 5.1-16);
  • É a vida permanente (Jo 15.1-17);
  • É a vida de amor (1 Co 13);
  • É a armadura do cristão (Ef 6.10-20);
  • É a vida do caráter cristão (2 Pe 1.5-11).
A seguir, algumas coisas essenciais a fazer para ser cheio do Espírito:
  • Confesse e abandone o pecado assim que tomar consciência dele (1 Jo 1.9; Pv 28.13);
  • Submeta-se ao controle do Senhor em todos os momentos (Rm 12.1-2);
  • Encha-se com a Palavra de Deus (Jo 17.17). Você não pode ser cheio do Espírito a menos que a Palavra de Cristo habite em você ricamente (Cl 3.16);
  • Passe bastante tempo em oração e adoração (Rm 8.26; 2 Co 3.18);
  • Mantenha-se perto da comunhão cristã, evitando envolver-se com questões do mundo (Hb 10.25; 2 Tm 2.4);
  • Ocupe-se para o Senhor (Ec 9.10);
  • Diga um sonoro “não” para os apetites ilícitos da carne (1 Co 9.27). Responda à tentação pecaminosa como um morto responderia (Rm 6.11). No momento de forte tentação, clame ao Senhor (Pv 18.10). Tome medidas rigorosas para evitar qualquer pecado (Mt 18.8). Fuja, não caia (2 Tm 2.22). Aquele que luta e foge sobrevive para lutar mais um dia.
  • Controle seus pensamentos (Pv 23.7; Fp 4.8);
  • Seja Cristocêntrico, não egocêntrico (Jo 16.14).
Agora faça o que tem de fazer, crendo que o Espírito está no controle.
Como é ser cheio do Espírito? A maior parte da vida provavelmente continuará sendo o habitual trabalho duro, rotineiro e secular. Às vezes, haverá picos. Porém, você perceberá que os mecanismos da vida se encaixam, que acontecem coisas incomuns. Você terá consciência de que o Senhor está operando em você e por seu intermédio. Sua vida reluzirá com o sobrenatural e, quando você tocar outras vidas, algo acontecerá para Deus.
Além disso, haverá poder (Lc 24.49; At 1.8), intrepidez (At 4.13,29,31), alegria (At 13.52), louvor (Lc 1.67-75; Ef 5.19-20) e submissão (Ef 5.21).
Um último aviso. A pessoa que é cheia do Espírito nunca diz que é. O ministério do Espírito é exaltar Cristo, não o crente. Vangloriar-se como se o tivesse alcançado é orgulho. (William MacDonald - 
 http://www.chamada.com.br)



William MacDonald (7/1/1917 – 25/12/2007) viveu na California–EUA, onde desenvolveu seu ministério. Sua ênfase era de ressaltar com clareza e objetividade os ensinamentos bíblicos para a vida cristã, tanto nas suas pregações como através de mais de oitenta livros que escreveu.